segunda-feira, 10 de março de 2008

Origem

Íncrível como certas coisas são previsiveis. Passa anos, a idade já não é a mesma. E tu sabe, tu sente, como irá ser.
Minhas visitas a nona, que já não são mais tão frequentes, sempre são assim.
A única coisa que mudou, se podemos considerar uma mudança, é que o pé de bergamota, o mais bonito de todos, foi cortado.
De resto tudo igual.

A casa grande, quartos imensos, cozinha que acolhe os 7 filhos, os 7 genros e noras, os 18 netos, os 3 bisnetos, fora namorados (as), noivos (as) e afins.
Cresci lá. Meu dialeto italiano [ótimo por sinal - mentira] veio de lá, lá que meu pai conquistou minha mãe jogando tampinha de garrafa nas pernas dela. [foi a saia de pé xujo que ela estava usando que fisgou ele].
Aprendi a gostar de figo-do-mato com o meu nono. A fazer carrinho de lomba com o meu tio. A brincar de funda [pra matar os malditos pombos] com o meu primo.
Lembro das noites ao redor do fogo no galpão do fumo, queimando milho.
Das "pombinhas" [as únicas que gostei na minha vida] de pão da nona.
Os sorvetes caseiros da tia.
Os filós com "brodo" e bisca [que eu não sei jogar] noites a dentro.
O amor gigante e mais lindo que já vi no mundo entre nona Teresa e nono Venuto.
Nono me ensinando a falar latim.
Nona me ensinando a fazer coque banana nos cabelos.

Claro, essas cenas não se repetem mais. Minha nona até conseguir me chamar de "Su" me chama pelo nome de todas minhas primas.
Mas é como reviver tudo isso quando se entra naquela casa. As sensações são as mesmas.
Agora me colocam cozinhar, temperar quilos de galeto, ficar rodando aquela coisa antiga de se fazer bigolli e taiadelle, arrumar as camas para todo mundo. Mas eu até faço com gosto.
De recompensa ataquei um pé inteiro, forrado de figo roxo. [o melhor] e a nona já disse que o casaco azul que eu tanto amo vai ficar de herança pra mim!

Mas o nono faz falta. Há como faz...
Ele me dava vinho doce escondido. Tinha coragem de andar de carona comigo quando eu comecei a dirigir no auge dos meus 14 anos, dizia que eu era a neta mais linda só porque tinha os olhos iguais aos dele, me abraçava de um jeito tão doce, contava as historias de namoro dele e da nona sentado nos pés da minha cama quando eu tinha 12 anos e mesmo assim tinha medo do escuro.
A imagem dele sentado bem do lado do fogão a lenha, fazendo seus cigarros de palha ficaram na minha lembrança e eu sinto tanta falta.
Ele foi o único que disse [chorando] que eu continuava linda quando eu raspei os cabelos.
Sêo Benvenutto Detofano faz falta naquela casa, na vida da nona Teresa e na minha.

5 comentários:

laine. disse...

As pequenas coisas é que valem mais....



=)

Rochele disse...

Eu não tive nenhum vozinho. Os dois morreram antes de eu nascer. E mesmo assim sinto falta. É bom ter essas lembranças da infância.
Bjos

... disse...

bah..minha vo preferida se foi...e com ela um gostinho de folhas secas voando com a brisa dos ventos de outono...

Adele Corners disse...

Bah, que supimpa essa sensação né?

E mais uma coisa:
que foto de coloninha em desfile da Festa da Uva hein??? hahahahahha Chapéuzinho de palha e tudo.

Vila Shhhhh faz isso com a gente...

Paulo disse...

Putz, que post gostoso de ler. Me trouxe um turbilhão de emoções, que eu julgava superadas. Adorei!